Polí­cia

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Casa onde criança era mantida acorrentada no barril é invadida e vandalizada em Campinas

Tio confirma que residência ficou destruída e diretor do Deinter-2 condena tentativa de 'justiça com as próprias mãos'.

CAMPINAS - A casa onde uma criança de 11 anos era mantida acorrentada em um barril de ferro, em Campinas (SP), foi invadida e vandalizada na noite da última segunda-feira (1º). O ato é considerado crime de dano ao patrimônio, previsto no Código Penal, e que pode render de um a seis meses de detenção. Em entrevista o tio do menino confirmou que a residência ficou "destruída".

Móveis, alimentos e objetos diversos foram revirados e vandalizados no imóvel localizado no Jardim Itatiaia. O pai do menino, a namorada dele e a filha dela estão presos e vão responder por tortura. O garoto segue internado para tratamento contra desnutrição.
 
O delegado José Henrique Ventura, diretor do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter 2), condenou a atitude que, de acordo com moradores da região, teria sido cometida por alguns vizinhos indignados com a situação.
 
"Isso é dano doloso. Depredar patrimônio público ou particular é crime de dano, e se muita gente estiver envolvida, pode até caracterizar uma associação criminosa. Não se pode fazer justiça com as próprias mãos", alerta Ventura.
 
Segundo o diretor do Deinter 2, o vandalismo no imóvel não prejudica o andamento do inquérito, uma vez que a parte pericial no local já havia sido realizada no fim de semana, após o resgate do garoto por policiais militares no sábado (30). "A perícia já recolheu o que tinha de recolher, fotografou o que tinha de fotografar", diz.
 
Para que a Polícia Civil possa instaurar o procedimento contra os invasores, é preciso que as vítimas, ou um representante delas, faça a representação. No entanto, não houve registro da ocorrência até a tarde desta terça-feira (2).
 
Tortura repercute na vizinhança
 
Mãe de dois filhos, uma mulher de 30 anos que mora próximo da casa da família conta que a notícia sobre a tortura vivida pelo menino, que além de permanecer acorrentado sofria com alimentação precária, deixou todos horrorizados.
 
"Olha, quando mandaram os vídeos com o menino, fiquei horrorizada com a situação. Sempre morei por aqui, nunca imaginava", conta.
 
Segundo a dona de casa, que preferiu não ser identificada, a notícia sobre a invasão no imóvel correu pelo bairro, mas ela condenou a atitude.
 
"Não fui até lá, mas até comentei com minha mãe. Vandalismo, quebrar as coisas, não adianta", disse.
 
Criança segue internada
 
Nesta terça, o menino, que estava internado no Hospital Ouro Verde, acabou transferido para outra unidade da rede municipal, o Hospital Mário Gatti, onde trata de um quadro de desnutrição. Seu estado de saúde é estável.
 
Em nota, Secretaria de Saúde informou que a mudança foi uma questão logística, uma vez que o Ouro Verde tem concentrado atendimento de casos suspeitos e confirmados de Covid-19.
 
"Os dois hospitais são municipais e geridos pela Rede Mário Gatti de Urgência e Emergência. A transferência se deu porque havia um leito mais adequado para o atendimento do menor no Hospital Mário Gatti; o Ouro Verde tem ficado voltado a casos de síndrome respiratória e COVID. O menor continua bem, estável, recebendo nutrição adequada e aguardando condições de alta", diz o texto.
 
Investigação da prefeitura
 
A Prefeitura de Campinas informou que vai abrir, nesta terça (2), uma investigação para apurar "eventuais falhas e omissões" dos serviços públicos municipais, além de entidades conveniadas, no caso do menino mantido com as mãos e os pés acorrentados dentro de um barril de ferro.
 
A criança foi resgatada no último sábado (30), após denúncias de vizinhos. Na segunda-feira (1º), o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), fez uma reunião e exigiu um relatório para entender até que ponto órgãos ligados à prefeitura, como o Centro de Atenção Psicossocial (Caps), Centro de Referência da Assistência Social (Cras), além do Conselho Tutelar, sabiam da situação. O documento apontou que o menino foi atendido "várias vezes" na rede desde setembro de 2019.
 
Depois da chegada do relatório nesta terça-feira, o chefe do Executivo decidiu abrir a investigação. De acordo com a administração municipal, além de apurar supostos problemas na condução do caso do garoto, a intenção também é "propor melhorias e adequações no fluxo de atendimentos a situações como esta".
 
A investigação será conduzida pela Secretaria de Justiça e terá prazo de 60 dias para conclusão, prorrogáveis por mais 30. A apuração correrá em sigilo para respeitar o Estatuto da Criança e do Adolescente.
 
Revestir 336 (polícia) - 03/02/2021
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