Economia

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Usinas começam a mecanizar corte de cana

Mecanização preocupa cidades pequenas

ADAMANTINA - O que muitos esperavam ansiosamente e outros temiam começou a acontecer. A mecanização do corte da cana de açúcar vem aumentando ano a ano, e aos poucos os trabalhadores rurais começam a ser dispensados.

O emprego de máquinas ao invés de pessoas, segundo especialistas, tem ao menos três razões: econômica, legal e social. Além do uso de máquinas otimizar a produção e substituir o pagamento de mão-de-obra (uma colheitadeira substitui o trabalho de cem cortadores de cana), foram criadas leis para extinguir a colheita manual até 2014.
Atualmente, as oito usinas instaladas na região já começaram a comprar colheitadeiras e plantadeiras e aos poucos, dispensar trabalhadores.

Em entrevista ao IMPACTO o presidente do Sindicato do Trabalhadores Rurais de Adamantina (que abrange também os municípios de Inúbia Paulista, Pracinha, Mariápolis e Lucélia), Antonio Carlos de Oliveira, afirmou que embora muitos estejam preocupados, a transição da mão-de-obra será gradual e o sindicato junto com outras categorias já estão se empenhando para criar alternativas para estes trabalhadores.

“Até 2014 cerca de 80% dessas pessoas estarão desempregadas. Só neste início de ano mais de 300 não devem ser recontratadas para o corte da cana. É claro que isso nos preocupa, mas como já sabíamos que isso aconteceria, começamos a pensar em cursos de qualificação profissional para inserir esses trabalhadores no mercado de trabalho. Já temos agendado para o mês de maio um curso de eletricista, que deve ajudar muitos dos que não continuarão no trabalho rural”, afirma.

Para o engenheiro agrônomo Maurício Konrad, mesmo com os cortes devido a substituição da mão-de-obra humana pela máquina, o setor sucroalcooleiro absorverá cortadores de cana em diferentes funções dentro da cadeia, como tratorista ou operador de caldeira de usina, mas infelizmente a grande massa de trabalhadores - muitos analfabetos - ficará desempregada ou terá que migrar para outras culturas, como a fruticultura e agricultura familiar.

Konrad afirma que embora a mudança possa trazer problemas econômicos e sociais na região - já que existem cerca de 10 mil pessoas trabalhando no corte da cana, com renda mensal em torno de R$ 1 mil – a extinção deste tipo de trabalho dará mais dignidade às pessoas. “O corte da cana é uma função insalubre. Os trabalhadores que não ficarem nas usinas exercendo diferentes funções como por exemplo a catação de bitucas ou na recuperação das APPs, poderão facilmente ser absorvidos em outras culturas, como a fruticultura e a agricultura familiar, que não crescem mais por falta de mão-de-obra. Eles terão que se adequar, mas não precisarão ficar desempregados”, afirma.

Segundo o agrônomo, a extinção da queimada da palha da cana de açúcar significará ainda a melhoria na qualidade do ar, a minimização do efeito da erosão, causado pelo corte e a diminuição do problema de assoreamento dos rios, e consequentemente água de melhor qualidade.


Impacto econômico da mecanização preocupa pequenas cidades

O impacto econômico que a mecanização do corte da cana de açúcar deve causar, principalmente nas pequenas cidades da região, tem preocupado as autoridades, que buscam saídas para minimizar os efeitos.

Na série de entrevistas realizadas pelo IMPACTO em 2010, com os prefeitos da Nova Alta Paulista, muitos deles já se diziam preocupados e buscando alternativas para evitar um possível caos econômico e social nas cidades.

Estudos apontam que uma máquina colheitadeira substitui de 80 a 100 trabalhadores braçais, além de realizar o trabalho em menor tempo. Outro setor que deve perder espaço é o do transporte. Os chamados ‘kits’ adquiridos pelas usinas, com plantadeiras e colheitadeiras, devem diminuir o transporte de caminhões em até 50% durante o plantio e 15% durante a colheita.

Mas o que mais preocupa as autoridades é como inserir esses trabalhadores, a grande maioria sem qualquer qualificação profissional, no mercado de trabalho. Além do desemprego, que deixará muitos sem qualquer renda, nota-se que muito dinheiro será destinado ao capital externo, na compra dessas máquinas que giram em torno de R$ 1 milhão o kit.

Salmourão, por exemplo, que de acordo com estimativas possui cerca de 70% de sua população ativa no setor sucroalmoleiro, é uma das cidades que teve que se adaptar desde já para não sentir os efeitos.

“Muitas usinas estão com problemas de adaptação das máquinas, precisam de funcionários qualificados para manuseio e execução de outras tarefas. Estamos trabalhando nisso, buscando formas de capacitar esses trabalhadores para que assim eles possam continuar ativos, mas exercendo diferentes funções. O mercado em geral está aquecido, por isso não acredito que devemos nos desesperar.

Salmourão sempre foi conhecida pela fama de ter gente trabalhadora. A aceitação do nosso povo é muito grande”, finaliza o prefeito José Luis Rocha Perez.

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