Economia

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Transporte esbarra na falta de caminhoneiros em todo o país

Realidade não é diferente em Osvaldo Cruz. Mesmo sendo destaque no setor, profissionais vêm de fora

Foto: Daniel Torres Foto: Daniel Torres

OSVALDO CRUZ - Com o crescimento econômico registrado pelo Brasil nos últimos anos, o país, cujo Produto Interno Bruto (PIB) crescia no início da década a 1,5% e observou crescimento de 7,8% em 2010 (segundo dados do Banco Central), esbarra em gargalos estruturais e de mão-de-obra que atravancam o desenvolvimento.

Um dos reflexos dessa realidade, por exemplo, é a falta de mão-de-obra especializada em diversos setores fundamentais para o aquecimento da economia nacional, como o da construção civil e de tecnologia. No setor de transportes não é diferente e apresenta dificuldades em contratar pessoas.

Segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), em 2010 a produção brasileira de veículos superou o recorde de 2008, crescendo 14,3% sobre 2009 e as vendas de caminhões novos cresceram 43,5%, totalizando 157.696 unidades. Mas frente a esses dados positivos, o contraste: há cada vez menos pessoas interessadas ou qualificadas para trabalhar como caminhoneiros.

Osvaldo Cruz

Osvaldo Cruz, conhecida como a capital estadual do caminhão bitrem graneleiro, sofre do mesmo mal.

No Grupoeste, maior empresa de transporte de cargas do setor na cidade, o déficit é de cerca de 170 profissionais (ou 25%) para atender à demanda atual e as pretensões de expansão.

Para suprir a falta de profissionais, o grupo contrata motoristas de outros municípios e até de outros estados do país.

“Falta realmente. Temos tido que angariar mão-de-obra de fora, de longe, para trabalhar conosco e isso é algo gritante no momento, um apagão de mão-de-obra no segmento”, reclama o presidente do Grupoeste, Marcelo Batistioli.

Dos caminhoneiros que prestam serviços para a empresa, mais de 50% são de outras cidades, com pessoas de municípios num raio de até 600 quilômetros. “Aqui há caminhoneiro até de Rio Verde de Mato Grosso (MS)”, emenda.

Para Evandro Borguetti, associado do Grupoeste, a falta desse profissional no setor é consequência de problemas estruturais do país, que cresceu economicamente sem investir em qualificação da população.

Outros problemas apontados para o “apagão de mão-de-obra” são o alto índice de migração de emprego no mesmo segmento e a falta de especialização (inclusive do interesse em especializar-se) do profissional, que precisa se qualificar para operar os veículos com novas tecnologias de bordo.

“Aqui na empresa foi criado um centro de treinamento para novos condutores [com 15 vagas por turma], que está paralisado por falta de interessados”, acrescenta.

Segundo informações repassadas pela companhia, Osvaldo Cruz possui a maior média salarial do setor bitrem graneleiro do estado de São Paulo (aproximadamente seis salários mínimos em média) mas, ainda assim, há dificuldade em encontrar pessoal.

Mas a maior barreira apontada pelos empresários é o fator discriminação. O estereótipo criado pela sociedade liga o profissional aos riscos oferecidos pela estrada, ao uso de entorpecentes (rebites) e à prostituição.

“Os profissionais da área são pais de família que têm a responsabilidade de prestar um serviço de qualidade e voltar para a casa, recebendo o seu sustento digno”, rebate Batistioli.

Os requisitos básicos para a contratação de um caminhoneiro é a carteira de habilitação (CNH) categoria “E”, qualificação para operar os novos caminhões, ficha limpa (jurídica e financeiramente) e disposição para encarar os desafios de passar até um mês fora de casa, dependendo da necessidade do transporte.

“Atualmente um caminhoneiro não passa mais de 30 dias longe da família. É possível, inclusive, estar praticamente toda semana em casa”, alega Valter Yasui, associado do Grupoeste.

O outro lado

A falta de valorização do profissional pelas empresas de transporte pode ser o que pesa mais, na opinião de Leandro Marques, caminhoneiro de Ouro Verde, de 32 anos, na estrada há 11, que é casado e pai de uma menina.

“Eu tive a oportunidade de conhecer a vida de caminhoneiro através do meu irmão. Agradeço muito a ele porque tenho o que tenho hoje graças ao caminhão. Só que acho que deveria ser dado mais valor para os profissionais como um todo [na questão dos direitos trabalhistas]”, declara.

A reclamação dos caminhoneiros em geral é que, mesmo com salários satisfatórios, muitos não têm direito a férias e a 13º, por exemplo. Além disso, muitas empresas de transporte descontam parte do valor dos pedágios no pagamento do motorista.

“Em minha opinião, hoje a escassez de profissional no setor se dá por falta de oportunidade para pessoas sem longas experiências na área. Até entendo que tem a questão da responsabilidade de conduzir caminhões novos, que valem muito dinheiro [aproximadamente R$ 500 mil], mas poderiam ter essa oportunidade”, expõe.

Para quem se interessa em ingressar na área, Marques dá algumas dicas para a profissão que, segundo ele, é uma das mais satisfatórias. 

“Primeiramente tem que gostar do que faz. Ganha-se bem, mas tem-se um preço a pagar, que é o de ficar longe da família em algumas vezes. Em segundo lugar, busque aprender mais sobre a estrada, ande junto com um profissional experiente e se especialize para ser um bom profissional”, conclui.

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