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Estadão: Governo de SP teria feito acordo com PCC em 2006

Acerto seria para interromper ataques às forças de segurança do estado. Autoridades negam que tenha havido acordo

SÃO PAULO -  O jornal O Estado de São Paulo publicou nesta segunda-feira (27) uma reportagem em que afirma que o comando da Segurança Pública de São Paulo, em 2006, fechou um acordo com o crime organizado. O acerto teria sido feito nessa época para que os ataques às forças de segurança do estado fossem interrompidos. As autoridades negam esse acordo.

O delegado José Luiz Ramos Cavalcanti prestou depoimento no processo que investigava a relação de advogados com o crime organizado. Ele contou que, dois dias depois que os ataques às forças de segurança começaram, um diretor da Polícia Civil mandou que ele viajasse até Presidente Bernardes em um avião da Polícia Militar. Segundo o depoimento, representantes do governo de São Paulo se encontraram com o chefe da quadrilha que age dentro e fora dos presídios paulistas, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola.

Era maio de 2006. São Paulo vivia dias de ataques contra as forças de segurança. Em seis dias, foram 293 ações. Cento e cinquenta e duas pessoas morreram, entre elas, 45 civis, policiais civis, militares, agentes carcerários e guardas.

Tudo começou quando o então secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, determinou o isolamento de 765 detentos no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes, no interior do estado, entre eles, Marcola.

O jornal O Estado de São Paulo, na edição publicada nesta segunda-feira (27), diz que "representantes da cúpula do governo estadual fizeram um acordo com Marcola para pôr fim a onda de ataques da facção criminosa".

Cavalcanti disse que "o seu chefe orientou que ele tão somente fiscalizasse o encontro” e que "não deveria interferir na conversa e nem tampouco estava autorizado a fazer qualquer acordo com os presos".

O delegado contou que, além dele, participaram da reunião Iracema Vasciaveo, advogada de uma ONG que representava parentes de presos, e mais o corregedor da Secretaria de Administração Penitenciária e o comandante da Polícia Militar na região. Na outra ponta da mesa, estava Marcola.

Cavalcanti relatou que "a advogada tentava convencer Marcola a falar por telefone com outros presos para que dissesse que estava bem e que os outros presos que estavam em Bernardes também estavam bem, e que isso faria cessar os atentados" e que Marcola respondeu que "não podia parar aquilo que não havia começado".

Segundo o depoimento, "a advogada insistiu, dizendo que, se Marcola falasse que estava bem, tudo cessaria e ele disse que se fosse isso, ele pediria para chamar outro preso, o LH". LH foi levado para a sala e a advogada entregou o seu telefone. O delegado afirmou que "não ouviu LH dar ordem para parar, porém, o preso sugeriu que, se eles quisessem parar ou continuar, estava tudo bem".

A advogada diz que o então governo do estado, comandado por Cláudio Lembo, não fez acordo com Marcola. “Não, acordo não houve em momento algum. Momento nenhum, nenhum. A única coisa que ele me disse: "quem começou isso é que tem que parar". Nós só fomos lá com a missão de saber se os detentos estavam bem”, diz Iracema Vasciaveo.

O fato é que, horas depois da ligação feita de dentro do presídio de segurança máxima, a onda de violência chegou ao fim em São Paulo. Os ataques pararam e os presos encerraram as rebeliões nos presídios. O governo do estado nega que tenha feito acordo com o crime organizado. “Nós não fazemos nenhum acordo com bandido. Nós não fazemos acordo com criminoso, sejam eles de facções criminosas, sejam eles de não facções criminosas. Então, não há nenhum acordo, não houve nenhum acordo, e não haverá enquanto for o governador Geraldo Alckmin e eu for secretário de Segurança”, afirma Alexandre de Moraes.

O governo de São Paulo declarou também, em uma nota, que declara que o depoimento do delegado Cavalcanti não fala em acordo e que o fato de não haver represália contra os presos não significa acordo.

O então governador de São Paulo, Claudio Lembo, disse que apenas autorizou que uma advogada usasse o avião do estado para ir ao presídio verificar a integridade física de Marcola.

O secretário da Administração Penitenciária na época, Nagashi Furukawa, não quis comentar o assunto.

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