Acontece

27925

Folha de São Paulo publica bastidores da confusão do Bispo de Marília com padre de Adamantina

Autoridade da diocese teria culpado padre Wilson pelos protestos no dia em que visitou a Paróquia Santo Antonio

SÃO PAULO - O jornal Folha de São Paulo publicou matéria neste domingo (21) sobre os bastidores da confusão entre o bispo da Diocese de Marília, Dom Luiz Antonio Cipollini e o padre Wilson Ramos, recém transferido para Dracena, após uma suposta divisão de fiéis na paróquia adamantinense.

Segundo o jornal, " com um olhar amedrontado, algo incompatível com o seu conhecido estilo firme, o bispo dom Luiz Antonio Cipolini já tirava o traje paroquial na sala de sacristia da igreja Santo Antonio de Pádua, em Adamantina, quando o padre Wilson Ramos se aproximou.

O bispo olhou para ele e gritou: "A culpa disso tudo é sua". Naquele domingo (7), uma missa de crisma comandada pelo bispo fora paralisada ao menos três vezes por protestos contra a transferência do padre da cidade.

Ainda na sacristia, o padre suplicou: "Eu não sabia que isso [protesto] aconteceria".

Em seguida, debruçou-se sobre a mesa, começou a chorar, mas logo se levantou e saiu da igreja para tentar acalmar os manifestantes.

 O padre insistiu pelo fim dos gritos de "bispo racista" e "fica, padre Wilson."

Enquanto isso, na igreja trancada, sete PMs protegiam o bispo e outras 20 pessoas que trabalharam na missa.

Um sargento tentou um fim pacífico. "Bispo, nós te protegemos, mas o senhor precisaria ir lá fora e dar uma explicação sobre a transferência do padre". O bispo respondeu: "Eu não devo nenhuma explicação."

Duas horas depois da missa, quase à meia-noite, o bispo entrou escondido no carro de um PM rumo a Marília (a 435 km de SP), onde fica a Diocese da região e sua casa.

O veículo que ele usou para ir à missa, um Voyage prata, ficou em Adamantina até o dia seguinte, com os pneus furados e riscos na lataria.

A cena foi o ápice de uma polêmica na cidade de 35 mil habitantes, no oeste de São Paulo, que envolveu plebiscito, acusações de racismo, pichações, protestos e determinação de afastamento.
resistência e racismo

Há pouco menos de dois anos, Wilson Luís Ramos foi o primeiro padre negro a ser nomeado para a igreja matriz de Adamantina. Quem o escolheu foi o antecessor de Cipolini, no cargo há um ano.

Ligado a uma ala mais aberta da igreja, Wilson começou a dialogar sobre drogas, alcoolismo e separação.

Mas antes teve de lidar com o racismo. Em uma cidade com forte imigração europeia, alguns fiéis não aceitaram um pároco negro.

"Um dia ouvi uma mulher dizer que deveriam tirar o galo de bronze [em cima da igreja] e colocar um urubu", disse o padre à Folha.

Para sobreviver na igreja, o padre Wilson teve de passar por um plebiscito no qual 700 fiéis votaram.

Mas reclamações, como de atraso no início das missas, por exemplo, continuaram a chegar ao bispo, e o religioso, no final de novembro, transferiu o padre para a vizinha Dracena (a 634 km de SP). Para o bispo, o padre estava "dividindo a comunidade."

Procurado desde o início do mês, o bispo não se manifestou até o fechamento desta edição.

Dízimo graúdo

Adamantina cresceu ao redor da igreja matriz, e a religião tem grande influência na população. O dízimo chega a R$ 80 mil mensais e, em contra a decisão do bispo, há um movimento para o fim das doações à igreja.

Na cidade, é difícil encontrar quem se declare em público contra o padre Wilson. Uma casa chegou a ser pichada com a palavra "racistas".

Atualmente o padre e sua mãe vivem de favor em duas casas da cidade -a residência paroquial em Adamantina teve de ser desocupada para a chegada do substituto, mas a nova casa, em Dracena, só será esvaziada no próximo final de semana.

Última missa

No sábado (6), centenas de fiéis se reuniram em frente à igreja, durante o que seria a última missa do padre Wilson na cidade. "Tratem bem o padre que chegar", disse o religioso, sem imaginar o tamanho da confusão com o bispo que viria no dia seguinte."

Dê sua opinião

Não serão aceitas mensagens com conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade, ou que desrespeite a privacidade alheia;


Comentários
 
 
 
Fechar
Rádio Califórnia Rádio Clube Rádio Max Rádio Metropole